Na Medicina existe a celebre frase: "Cada caso é um caso". Ela existe para lembrar aos médicos que o descrito nos livros é apenas uma referência às várias características encontradas numa determinada doença. Poucos casos terão tudo o que está escrito, muitos terão vários sinais ou sintomas, e alguns casos terão poucos sinais e sintomas (o que torna às vezes inconclusiva uma avaliação).
Esta é a parte da ciência médica mais fascinante. Ocorre um exercício mental constante, que motiva o Médico a sempre estudar e se aperfeiçoar diariamente.
Quando se vai ao Médico todos ficam numa sala de espera aguardando ao chamado. São nestes minutos que se escutam os mais diversos comentários contados pelas outras pessoas presentes no local. Muitos compartilham as suas doenças, seus sintomas e alguns se identificam e já entram no consultório convictos de terem achado a solução para seus problemas assim como a conduta terapêutica a ser seguida.
Soluções levadas até o consultório após extensa pesquisa na internet (“Dr. Google”) e em outras fontes de informação, inclusive nos relatos familiares, podem ser úteis, mas geralmente são fatores complicadores.
Os termos médicos ali expostos são muitos e de difícil compreensão. As simplificações e generalizações quase nunca são consistentes. Pois cada indivíduo é um ser único, com suas próprias peculiaridades.
A mídia também auxilia nesta crescente desinformação quando se utiliza de termos médicos de maneira superficial ou tendenciosa. Existem também sociedades, cultos religiosos e até empresas que se utilizam destas informações para finalidade própria e que nada tem haver com a Medicina ou seu caráter orientador.
Falando em efeito terapêutico, falaremos agora dos remédios. Neste ponto de encontro de pacientes / clientes, todos têm a solução para o seu problema. Tal ou qual remédio foi muito bom, outros nem tanto e alguns nem pensar. Assim, vemos uma troca de nomes de remédios com o objetivo curativo. Não é incomum o paciente entrar no consultório afirmando: "Dr., o senhor não me solicitou determinado exame, ou não prescreveu uma medicação que o outro paciente toma e disse que melhorou muito. Por que?"
De repente surge no Médico uma série de imagens mentais e informações científicas sobre artigos versando de psicofarmacologia clínica, farmacocinética e farmacodinâmica e outras reminiscências de experiências dos anos de vida profissional, que dificilmente podem ser transferidas mentalmente para a mente do paciente como se fosse um download.
Lembremos que nem todos podem ir ao Pronto Socorro e serem medicados com benzetacil por causa dos casos de hipersensibilidade ou alergia à mesma. Os medicamentos psicoativos agem de forma semelhante. O metabolismo de cada um responde de maneira diferente a diferentes medicamentos.
Costumo imaginar as pessoas como uma grande curva de Gauss. Alguns respondem bem à medicação, outros respondem muito pouco e outros respondem bem demais. Da mesma maneira são os efeitos colaterais.
A área em azul escuro está a menos de um desvio padrão (σ) da média. Em uma distribuição normal, isto representa cerca de 68% do conjunto, enquanto dois desvios padrões desde a média (azul médio e escuro) representam cerca de 95%, e três desvios padrões (azul claro, médio e escuro) cobrem cerca de 99.7%.
Concluindo: Não é porque somos todos da espécie humana que todos somos iguais. Somos parecidos, mas não somos iguais. Cada um de nós tem a sua singularidade, sua unicidade, que não se repete. Somos parecidos com nossos pais, mas não somos iguais. Não é porque funcionou um remédio no fulano de tal que irá funcionar em nós de maneira semelhante. Existe uma grande probabilidade de que sim, mas há também a probabilidade que não.
Por isso não tomem medicações sem a orientação do seu Médico e, se os sintomas não melhorarem ou piorarem entre em contato com ele.